Cientista brasileira cria biorepelente que, aplicado em tecidos, protege por até 60 dias contra febre amarela
Fernanda Checchinato, com criatividade e determinação, avança em pesquisas que criam produtos inovadores – como esse spray de baixíssima toxicidade
Quem pensa ser a criatividade um dom exclusivo dos artistas, precisa conhecer a história da engenheira química, doutora em Ciência e Engenharia de Materiais pela Universidade Federal de Santa Catarina, Fernanda Checchinato. Essa paulista de Jundiaí, de 42 anos, acaba de lançar por conta própria um produto inovador, nascido de uma grande determinação, que vem a calhar especialmente no momento em que o país atravessa um surto de febre amarela. Fernanda, envolvida há 8 anos com a ideia de produzir um repelente menos tóxico e que seja aplicado em tecidos – e não na pele -, está feliz com a chegada ao mercado do Protec. O produto atende especialmente a quem não pode se vacinar contra a febre amarela, como idosos e imunodeprimidos por tratamentos como quimioterapia.
– Minha paixão sempre foi a pesquisa para criação de produtos – conta ela. – No meu doutorado, criei dois plásticos que não existiam, e que são bactericidas. Embalagens feitas com esse plástico matam as bactérias de alimentos acondicionados ali. Agora estou comercializando esse spray.
O biorepelente de Fernanda avança na proteção contra os mosquitos. Sua composição traz, além do produto repelente em si, à base de permetrina, um fixador que permite a permanência do produto nos tecidos – roupas, chapéus, lençóis, estofados – por dois meses.
– A permetrina não é tóxica para o ser humano, é usada em xampus e sabonetes inclusive. Mas é altamente tóxica para o inseto, que se afasta ou morre – explica Fernanda. – é como se fosse uma tela mosquiteira química.
A ideia veio de um produto já existente nos Estados Unidos. Fernanda trabalhava numa metalúrgica, onde era chefe de desenvolvimento – “e quase morri de tanta pressão. A turma não aceitava chefe mulher, riscavam meu carro, roubavam meu computador…” – e decidiu sair para apostar numa empresa própria, a Aya Tech. A primeira ideia foi confeccionar camisetas repelentes de insetos.
– Mas tínhamos problemas com costureiras, não sabíamos vender… passamos por tudo nesse meio tempo – ela relembra. – Começaram a pedir meia repelente, macacão repelente… e decidi pesquisar um produto que fosse aplicado no tecido. Primeiro, um líquido para a máquina de lavar e depois o spray.
A persistência de Fernanda não arrefeceu com os sucessivos problemas que sua empresa enfrentou, desde sócios que não cumpriram acordos até a burocracia de registro dos produtos.
– O spray não se encaixava em categorias pré-estabelecidas pela Anvisa. Fizemos laudos e laudos, mas só agora vamos conseguir o registro.
Fernanda enfrenta as muitas dificuldades com um mesmo espírito. Desde a formação (“minha universidade não tinha convênio com o exterior, concorri com o Brasil todo e ganhei bolsa de doutorado para a França”) os preconceitos contra sua extensa formação (“para arranjar emprego tive que tirar do meu currículo todas as especializações, os quatro idiomas que eu falo, uma loucura”), o machismo e os muitos obstáculos à implantação de uma start-up.
– Nada na minha vida é fácil – ela ri. – Até minha gravidez foi de alto risco. Mas minha filha nasceu totalmente saudável. A gente vai em frente.
O Protec está sendo produzido em versões domésticas e industriais. No site da Aya Tech, há uma lista de locais onde se pode adquirir o spray. A empresa também atende por e-commerce.