Como limpar discos de vinil? Testamos 7 métodos – Microbac no teste
Quem ouve música de vinil, sabe: sujeira é inimiga implacável. Por mais que se guarde o vinil em embalagens fechadas e se manipule o disco com cuidado, ela acaba por atingir o LP na forma de poeira, gordura, fungos e colônias de bactérias. A sujeira tanto incomoda ao ouvir o disco – com ruídos e pulos da agulha – quanto pode atacar o vinil. Manter limpos os vinis é questão que passa por gerações, e os métodos sempre geram polêmica: alguns são tidos como inúteis e outros acusados de atacar o disco, de entupir os sulcos ou afetar a saúde da agulha. Além disso, a temperatura na agulha chega a incríveis 1.000° C, o que leva à questão do que ocorre se algum resíduo de produto de limpeza fica no disco.
Para passar a limpo essas questões, convidamos a engenheira química Fernanda Checchinato a analisar os métodos mais usados na assepsia dos LPs. Doutora em Ciência e Engenharia de Materiais e CEO da startup Aya Tech, Fernanda avaliou seis métodos tradicionais de limpeza – e sem querer nos ajudou a descobrir um novo, baseado em nanotecnologia.
Método 1: Flanelinha
Usa-se pano seco e macio (normalmente flanela), o passando no sentido horário, da borda externa ao centro do disco. Audiófilos dizem que é errado. Argumentam que poeira e fungos seriam empurrados para o fundo dos sulcos e que partículas do tecido podem se soltar, acrescentando mais sujeira.
Fernanda Checchinato diz: “Eu não usaria esse método. O pó no pano, sendo ou não flanela, pode riscar o disco. Independente da questão das partículas do pano, o fato é que mesmo se o tecido funcionar como uma espécie de ímã para a sujeira na primeira passada, ele ficará sujo, não funcionando como esperado. E o pó pode, sim, ser parcialmente empurrado para o interior dos sulcos.”
Método 2: Detergente de louça
Lava-se com detergente neutro de louças e água fria. Em uma bacia plástica se mistura água e detergente, misturando bem para que o produto dissolva, e se coloca o LP por alguns minutos. Depois, usando as mãos bem lavadas, esfregue levemente o disco no sentido horário, do exterior para o meio. Por fim, o enxague sob água abundante da torneira, para que todos os resíduos saiam, e deixe que seque em um aparador plástico de pratos, na sombra. Críticos dizem que o detergente pode conter soda ou cloro, que podem atacar quimicamente o vinil. Além disso, dizem que resquícios do detergente podem ficar nos sulcos e, quando a agulha em sua temperatura alta de trabalho toca neles, podem ocorrer reações químicas ruins para o disco.
Fernanda Checchinato diz: “Ótima opção. Detergente neutro é indicado inclusive para lavar lentes de óculos, algo também delicado como o LP, e funciona perfeitamente. O detergente é desengordurante e solúvel em água. Se deixar o disco sob a água da torneira, o produto sai completamente, sem deixar resquícios. Mas deve ser usado apenas o detergente neutro: essa expressão significa que ele tem muito pouco corante, adicionais para cheiro e outros aditivos químicos. Como não sobram resquícios, mesmo com as altas temperaturas que a agulha submete o vinil nada acontecerá.”
Método 3: Sabão de coco
O sabão de coco em pedra é dissolvido em água, em uma bacia plástica. De resto, o processo é o mesmo do detergente neutro. Os adeptos do método o defendem por ser “natural”. Críticos argumentam que o sabão pode conter soda e que podem sobrar resquícios dele no disco.
Fernanda Checchinato diz: “Em princípio não simpatizo com essa técnica. Sabão de coco é de difícil dissolução: mesmo que não sejam visíveis, sobrarão pequenos pelotes do produto. Ele podem grudar no vinil, mesmo que em nível microscópico. Sabão de coco só deve ser usado se no formato líquido, em que a dissolução foi feita em indústria e é efetiva. Nesse caso, as vantagens são as mesmas do uso do detergente neutro.”
Método 4: Sabão em pó
Dilui-se uma porção de sabão em pó, de lavar roupa, na bacia plástica. Segue-se o mesmo procedimento do detergente líquido. Adeptos dizem que o sabão em pó atrai a sujeira e gorduras. Críticos comentam que não se sabe o que há no pó, e que ele pode ser agressivo para o vinil.
Fernanda Checchinato diz: “Não é boa ideia. Mesmo que não se enxergue, as partículas continuarão existindo. A dissolução em água é quase tão difícil quanto a do sabão em pedra.”
Método 5: Álcool
Embebe-se um chumaço de algodão estéril de boa qualidade com álcool de uso caseiro, 96 GL ou 46 G. O algodão é passado pelo disco em sentido horário, da borda externa ao miolo. Adeptos dizem que o disco fica limpíssimo e sem umidade, o que acaba com a festa dos fungos. Já os críticos argumentam que isso acaba por ressecar em excesso o disco, o fragilizando.
Fernanda Checchinato diz: “Álcool 46 não serve para nada. Já o álcool 96 mata alguns microorganismos. Mas se for para usar esse tipo de produto, apele para o álcool isopropílico, o melhor para remover gorduras, e de rápida evaporação.”
Método 6: Silicone
Usa-se silicone em spray e flanela limpa e seca. Quem o faz, costuma aspergir certa quantia de silicone sobre o disco e depois passar nele a flanela, em sentido horário, “esticando” o produto. Quem gosta da ideia, diz que não só limpa como ainda protege o vinil, criando uma micro película sobre sua superfície. Quem a critica, diz ser problema justamente a película: ela entupiria os sulcos, impedindo a agulha de captar sutilezas do áudio gravado.
Fernanda Checchinato diz: “Talvez possa tirar algum pó, mas não matará as colônias de microorganismos que vivem nos sulcos. A película de fato vai ocorrer. Se ela vai afetar a captação de sutilezas? Talvez, mas só para alguém com um equipamento extremamente sofisticado ou com ouvidos tão sensíveis quanto os do João Gilberto. E, bom, mesmo nesses casos, não estou certa de que seria perceptível.”
Método 7: Microbac
Não, esse método não é conhecido nem tradicional. Ao entrevistar Fernanda, soubemos de um produto em lançamento, que ela desenvolveu e é baseado em nanotecnologia, chamado Microbac. É um antibacteriano, antifungos e antimofo em aerossol. Testamos aspergindo o produto em algodão e o passando, em sentido horário, no vinil. Ficou limpo e brilhante, como novo. Mas não atacaria o LP ou deixaria resíduos?
Fernanda Checchinato diz: “Fiquei surpresa com a ideia. Microbac é poderoso para acabar com microorganismos e tem poder de fixação em nível nano, isto é, de partículas no nível de átomos. Mas foi criado para aplicar em tecidos – em tênis, por exemplo, acaba com bactérias que fazem o chamado xulé. Nunca imaginei uso em discos, mas vai funcionar. Quimicamente, não ataca o vinil porque a base do produto é em água e silicone. Elimina fugos e bactérias, o que outras soluções não fazem. Ele deixará uma camada fina de silicone no LP. Se a intenção é não ter essa camada, basta enxaguar o disco em água corrente após a aplicação.”
Testamos os métodos
Na redação do Kultme, testamos os sete métodos usando discos com nível de sujeira regular, comum em LPs de uso constante. Foram testes subjetivos: ouvimos cada álbum antes e depois da limpeza, avaliando também a acumulação de sujeira na agulha após a audição. Usamos para limpar a agulha uma escovinha de pelos naturais, dessas de maquiagem. Em alguns discos, durante a audição, a sujeira gruda na agulha de forma aparente e muito rapidamente.
Nos testes, usamos um toca-discos clássico Telefunken PS 900 com cápsula Ortofon OM 3E e agulha elíptica, ampli Marantz PM 6004 e dois pares de caixas acústicas – novas canadenses Energy e vintage brasileiras Lando 3100.
Três más soluções…
Alguns resultados ruins foram notáveis. No caso do sabão de coco em pedra, tanto o disco quanto o som ficaram algo “opacos”. O sabão em pó teve resultado similar, embora o disco não tenha sofrido de opacidade.
Álcool, em qualquer versão, deixou o LP visualmente limpo e sem marcas – mas um dos discos, ao ser tocado, fez acumular sujeira na agulha. O álcool não foi eficaz ao menos nesse – o que leva a pensar que não chega de fato a limpar.
O uso de silicone em aerossol fez mesmo discos antigos e maltratados darem a impressão visual de novos. A agulha desliza com facilidade. Mas o silicone não se espalha de forma uniforme pelo disco. E, em alguns álbuns, a agulha deslizou em excesso: ela escorregava pelos sulcos, o que exigia maior pressão no braço para mantê-la funcionando. Nada bom. Não indicamos seu uso.
…e duas ótimas
Detergente neutro líquido se saiu bem. O porém é que se trata do método mais trabalhoso. Deixamos cada LP descansar por dois minutos na água com detergente, depois o lavamos usando os dedos, o banhamos sob a torneira e o deixamos por duas horas secando na sombra. Questão: é preciso lavar muito bem a mão antes, senão a gordura dos dedos pega aqui e ali no disco, mesmo com o detergente. Mas o resultado final é ótimo, tanto visualmente quanto na prova da agulha (diminuição relevante de estalidos e melhoria do som nos limites de agudos e graves). Mas será que colônias de microorganismos foram liquidadas ou apenas diminuídas?
Microbac não deixou resíduos e deu ao disco uma aparência brilhante de novo. A audição se mostrou tão boa quanto do detergente líquido. E, se não passado em água depois, o processo é mais simples. Opção nova e interessante.
Um caminho que não testamos, mas que pode ser bacana para discos mais queridos, é fazer a lavagem com detergente e, depois, com Microbac. Asseguraria tanto a limpeza de gorduras quanto de colônias de microorganismos. Dá trabalho, mas para ganhar a guerra contra a sujeira, nos sulcos de um álbum do coração, vale a pena.
http://kultme.com.br/kt/2017/02/20/como-limpar-discos-de-vinil-testamos-7-metodos/